Convergências
Muito se continua a falar de "convergência". Não das convergências democráticas ou de Portugal na Europa -- sobre essas tenho uma opinião bem cínica que prefiro omitir -- mas da convergência dos media na sociedade global de redes de comunicação (eufemenisticamente traduzida por "sociedade da informação").
Esta convergência, porém, a existir, está longe de se traduzir na "velha" noção de cruzamento genético entre televisor e computador. Pelo contrário, adivinha-se uma proliferação de mecanismos mediáticos e intermediários -- entre o homem e os conteúdos, mas também entre o homem e a inteligência artificial -- da qual nem o frigorífico ou as máquinas de lavar escapam.
Ao invés da miscibilidade dos ecrãs iremos ter, isso sim, um contínuo de variados ecrãs, cada qual com o seu próprio sentido e, claro, a sua função. A grande alavanca de tudo isto chama-se comércio electrónico -- do qual faz parte a comercialização de conteúdos -- que terá de precaver-se contra o facto de nós reagirmos de modo diferente a cada um desses ecrãs quando chega a hora de gastar dinheiro (a televisão é tendencialmente grátis, o computador anda lá perto, o telemóvel a gente paga, aos electrodomésticos não discutimos preço, etc.).
Ao contrário do que também por vezes se pensou, não é a jusante -- do lado dos conteúdos -- que irá assistir-se a um centrípeto movimento de convergência. Não é possível defender uma universal empacotação de mensagens, mesmo quando assistimos a uma intensa reciclagem de materiais desde Shakespeare a esta data. O tempo e o espaço de manuseamento dos ecrãs condiciona o tipo de aproximação, desde o mais sedentário -- o televisor -- ao mais nómada -- o telemóvel -- sugerindo que as aplicações do entretenimento, da informação útil (existirá ainda tal coisa?) e do comércio electrónico se fragmentem.
O verdadeiro movimento de convergência acontece, então, na computação ubíqua e na rede. Embora diferentes na substância, os ecrãs estarão interconectados na essência: um vasto magma de informação circulante que um romancista visionário poderia definir como uma tempestade de bits, radiação e tags XML.
Mas para além dos ecrãs, subsiste outro mistério (interligado, diga-se): o do interface. O diálogo entre telecomando-joystick-teclado e o menu interactivo. O interface é uma espécie de aventura espacial dos anos 50 e 60. Todos pensamos que aí residem muitas das aspirações da humanidade. Gastar-se-ão milhões (biliões) de dólares em investigação e ensaios, em toda a espécie de modelos: para chico-espertos, para idiotas, para inválidos. Mas o próximo passo da evolução das extensões do homem poderá ser, exactamente, a abolição do interface. Um belo dia alguém anunciará ao mundo o implante sináptico, o biochip. Barato, eficaz, energeticamente autosuficiente, o biochip não exigirá o uso de chapéu em formato parabólica nem ligação directa. Alimentar-nos-á sensações e sentimentos, sem o barroco burguês das representações. Dar-se-á então a convergência final entre o homem e a sociedade de informação :)
Esta convergência, porém, a existir, está longe de se traduzir na "velha" noção de cruzamento genético entre televisor e computador. Pelo contrário, adivinha-se uma proliferação de mecanismos mediáticos e intermediários -- entre o homem e os conteúdos, mas também entre o homem e a inteligência artificial -- da qual nem o frigorífico ou as máquinas de lavar escapam.
Ao invés da miscibilidade dos ecrãs iremos ter, isso sim, um contínuo de variados ecrãs, cada qual com o seu próprio sentido e, claro, a sua função. A grande alavanca de tudo isto chama-se comércio electrónico -- do qual faz parte a comercialização de conteúdos -- que terá de precaver-se contra o facto de nós reagirmos de modo diferente a cada um desses ecrãs quando chega a hora de gastar dinheiro (a televisão é tendencialmente grátis, o computador anda lá perto, o telemóvel a gente paga, aos electrodomésticos não discutimos preço, etc.).
Ao contrário do que também por vezes se pensou, não é a jusante -- do lado dos conteúdos -- que irá assistir-se a um centrípeto movimento de convergência. Não é possível defender uma universal empacotação de mensagens, mesmo quando assistimos a uma intensa reciclagem de materiais desde Shakespeare a esta data. O tempo e o espaço de manuseamento dos ecrãs condiciona o tipo de aproximação, desde o mais sedentário -- o televisor -- ao mais nómada -- o telemóvel -- sugerindo que as aplicações do entretenimento, da informação útil (existirá ainda tal coisa?) e do comércio electrónico se fragmentem.
O verdadeiro movimento de convergência acontece, então, na computação ubíqua e na rede. Embora diferentes na substância, os ecrãs estarão interconectados na essência: um vasto magma de informação circulante que um romancista visionário poderia definir como uma tempestade de bits, radiação e tags XML.
Mas para além dos ecrãs, subsiste outro mistério (interligado, diga-se): o do interface. O diálogo entre telecomando-joystick-teclado e o menu interactivo. O interface é uma espécie de aventura espacial dos anos 50 e 60. Todos pensamos que aí residem muitas das aspirações da humanidade. Gastar-se-ão milhões (biliões) de dólares em investigação e ensaios, em toda a espécie de modelos: para chico-espertos, para idiotas, para inválidos. Mas o próximo passo da evolução das extensões do homem poderá ser, exactamente, a abolição do interface. Um belo dia alguém anunciará ao mundo o implante sináptico, o biochip. Barato, eficaz, energeticamente autosuficiente, o biochip não exigirá o uso de chapéu em formato parabólica nem ligação directa. Alimentar-nos-á sensações e sentimentos, sem o barroco burguês das representações. Dar-se-á então a convergência final entre o homem e a sociedade de informação :)
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