"The successor to politics will be propaganda. Propaganda, not in the sense of a message or ideology, but as the impact of the whole technology of the times."
Marshal McLuhan

domingo

A mensagem da tecnologia

Quem não tem fé
Não pode invocar a fé dos outros
Lao Zi

Aposto que o leitor anda aterrorizado com as recentes quedas da bolsa. De repente deve ter começado a pensar: "afinal sempre era uma bolha!". E como qualquer bolha de sabão, incha, incha, até rebentar. Mas não, nada disso.
Na verdade, os verdadeiros culpados da quebras bolsistas são os analistas, especialistas e outros pessimistas; nem a economia, nem o mercado. Há força de tanto profetizarem a desgraça, os oráculos tornaram-se realidade. Os investidores, que certamente lêem muitas revistas, pensaram duas vezes e deixaram cair algumas das suas tentações. Mas ele há títulos que continuam sólidos como o betão e o aço (ou as suas indústrias). Veja-se o caso da AOL, da Cisco e mesmo da Microsoft, apesar da conspiração mundial que lhe está a ser movida. A questão é bem simples: nem tudo o que é Internet é bom e comer fruta verde pode provocar indigestões. Mas não pense o leitor que a nova economia está de frágil saúde ou para mudar radicalmente. Bem antes pelo contrário, a partir de agora o que florescer será garantidamente mais saudável.
O que melhor distingue o momento em que vivemos é a súbita deslocação da tecnologia: desde a periferia para o epicentro da vida humana. Na "velha tecnologia" maquinal e muscular, o homem estava em absoluto controlo (apesar das mensagens apocalípticas estilo "Metropolis"). Mas a "nova tecnologia" – a alta tecnologia, as tecnologias da comunicação e os media – veio afectar a um nível profundo a expressão, a percepção e o pensamento humanos, varrendo de um sopro os velhos paradigmas.
Dito de outra forma, a tecnologia é o meio que transforma, hoje e radicalmente, as leis pelas quais regemos a nossa(s) sociedade(s) e a nossa(s) economia(s). E a sua mensagem são os efeitos, psiquícos e socias, individuais e colectivos, no homem. O modo como o meio afecta e transforma as nossas vidas é mais importante do que o modo como afecta o que pensamos. “Os efeitos da tecnologia não ocorrem ao nível das opiniões ou conceitos, mas alterando os rácios dos sentidos e os modelos de percepção, continuadamente e sem resistência”, escreveu Marshall McLuhan. O planeta foi várias vezes visceralmente afectado por meios que reconfiguraram o espaço e diminuíram a distância (ou o tempo, se preferir): o comboio, a auto-estrada, o avião. Mas nenhuma dessas reconfigurações foi tão radical quanto a realizada pela electricidade. A electricidade matou definitivamente a distância, acentuando a simultaneidade entre a acção e a retroacção. Sem tempo de resposta e sem distanciamento, sem forma de lidar com um mundo que implode pela força das redes e da electricidade, somos tomados de um pânico sobrenatural, incapazes de aceitar que já não estamos em controlo.
A economia já não se comporta como uma máquina, respondendo às equações aritméticas e matemáticas de aprendizes de feiticeiro. A economia está viva e comporta-se como um vírus, uma bactéria, um organismo. Efectua saltos no contínuo, menos em evolução que em mutação. Escapou-se-nos. E é por isso, caro leitor, que quero aqui partilhar consigo esta sentida fé: eu cá vou continuar a investir na Internet.