Electrodomésticos e inconfidências
Numa casa vulgar é hoje possível identificar uma meia centena de "chips inteligentes”, discretamente imbuídos em vários electrodomésticos e afins, desde os diferentes telecomandos e o próprio computador à aparelhagem estereofónica, frigorífico, relógio-despertador, aspirador, game-boy, etc., etc.
A computação ubíqua, tal como o nome assim o indica, é quase invisível e os seus processos silenciosos (o seu poder, porém, não deve ser menosprezado). Talvez por essa razão este tipo de computação não tenha nunca despertado tanta atenção como outras áreas mais sonantes da tecnologia com as quais se entretêm diariamente os media.
Contudo, os questionamentos sociais e éticos normalmente elaborados em torno doutras áreas da ciência e tecnologia – como a inteligência artificial ou a largura de banda – também devem ser colocadas a estes invisíveis chips.
Ou seja, se é licíto clamar por uma largura de banda acessível a todos de modo a não criar uma sociedade de info-excluídos, também não é menos verdade que a computação ubíqua deve ser equitativamente distribuida. Em suma: todos nós temos direito aos electrodomésticos, como forma de libertação da inteligência para tarefas mais proveitosas ao bem pessoal e colectivo.
Mark Weiser (investigador da Xerox Palo Alto) perguntava se o facto destes chips pensarem por nós não acabaria por nos tornar menos inteligentes. Discordo em absoluto da assunção. O telecomando, por exemplo, é uma extensão dos nossos sentidos, não um seu substituto. Eis o que o televisor nos fez ao olhar, ou a máquina de escrever ao tacto. E, que se saiba, o que torna o homem estúpido não é o televisor -- o meio é a mensagem -- mas sim os programas que aí passam - os conteúdos.
A info-exclusão poderá não ser um fenómeno identificado apenas pela ausência dos PCs e da Internet, tal como a iliteracia não é só provocada pela falta de livros ou escola. A charneira destes chips “domésticos” não se encontra na “performance” individual, mas sim na possibilidade de comunicarem todos entre si. Um dia, a computação ubíqua estará tão interligada como hoje estão os computadores pessoais (através da Internet). Nessa altura – que cremos muito próxima – haverá que lidar com uma segunda questão ética: a privacidade.
Tal como os agentes inteligentes que desempenharão várias funções em prol dos seus proprietários, também estes chips acumularão conhecimento vital sobre as casas e as pessoas que servem. As primeiras peças de “wearable computing”, os telemóveis, registam a origem, destino e duração de todos as chamadas efectuadas. Há, obviamente, um lado bom nisso: o controlo que possuímos sobre as contas que nos enviam. Mas – escutas telefónicas àparte, que isso é matéria criminal – também podem servir outros objectivos: saber com quem falamos, durante quanto tempo, com que frequência. Há hoje programas que monitorizam o comportamento dos utentes de telemóveis e permitem às companhias de telecomunicações perceber se estão prestes a perder um cliente. Mesmo quando este ainda nem sequer está consciente de que o poderá vir a fazer!
Os chips invisíveis, dentro das nossas casas, podem ser vigilantes bem mais acutilantes que o exemplo referido acima. O frigorífico pode vir a conhecer melhor os nossos hábitos de consumo que nós mesmos. Nesse momento, teremos de estar preparados para assegurar a confidência dos electrodomésticos. Uma relação de confiança com os chips invisíveis é fundamental para assegurar a liberdade de cada um de nós. E o melhor é começar já a cuidar dela.
A computação ubíqua, tal como o nome assim o indica, é quase invisível e os seus processos silenciosos (o seu poder, porém, não deve ser menosprezado). Talvez por essa razão este tipo de computação não tenha nunca despertado tanta atenção como outras áreas mais sonantes da tecnologia com as quais se entretêm diariamente os media.
Contudo, os questionamentos sociais e éticos normalmente elaborados em torno doutras áreas da ciência e tecnologia – como a inteligência artificial ou a largura de banda – também devem ser colocadas a estes invisíveis chips.
Ou seja, se é licíto clamar por uma largura de banda acessível a todos de modo a não criar uma sociedade de info-excluídos, também não é menos verdade que a computação ubíqua deve ser equitativamente distribuida. Em suma: todos nós temos direito aos electrodomésticos, como forma de libertação da inteligência para tarefas mais proveitosas ao bem pessoal e colectivo.
Mark Weiser (investigador da Xerox Palo Alto) perguntava se o facto destes chips pensarem por nós não acabaria por nos tornar menos inteligentes. Discordo em absoluto da assunção. O telecomando, por exemplo, é uma extensão dos nossos sentidos, não um seu substituto. Eis o que o televisor nos fez ao olhar, ou a máquina de escrever ao tacto. E, que se saiba, o que torna o homem estúpido não é o televisor -- o meio é a mensagem -- mas sim os programas que aí passam - os conteúdos.
A info-exclusão poderá não ser um fenómeno identificado apenas pela ausência dos PCs e da Internet, tal como a iliteracia não é só provocada pela falta de livros ou escola. A charneira destes chips “domésticos” não se encontra na “performance” individual, mas sim na possibilidade de comunicarem todos entre si. Um dia, a computação ubíqua estará tão interligada como hoje estão os computadores pessoais (através da Internet). Nessa altura – que cremos muito próxima – haverá que lidar com uma segunda questão ética: a privacidade.
Tal como os agentes inteligentes que desempenharão várias funções em prol dos seus proprietários, também estes chips acumularão conhecimento vital sobre as casas e as pessoas que servem. As primeiras peças de “wearable computing”, os telemóveis, registam a origem, destino e duração de todos as chamadas efectuadas. Há, obviamente, um lado bom nisso: o controlo que possuímos sobre as contas que nos enviam. Mas – escutas telefónicas àparte, que isso é matéria criminal – também podem servir outros objectivos: saber com quem falamos, durante quanto tempo, com que frequência. Há hoje programas que monitorizam o comportamento dos utentes de telemóveis e permitem às companhias de telecomunicações perceber se estão prestes a perder um cliente. Mesmo quando este ainda nem sequer está consciente de que o poderá vir a fazer!
Os chips invisíveis, dentro das nossas casas, podem ser vigilantes bem mais acutilantes que o exemplo referido acima. O frigorífico pode vir a conhecer melhor os nossos hábitos de consumo que nós mesmos. Nesse momento, teremos de estar preparados para assegurar a confidência dos electrodomésticos. Uma relação de confiança com os chips invisíveis é fundamental para assegurar a liberdade de cada um de nós. E o melhor é começar já a cuidar dela.
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