O prazer de falhar
Ame as suas experiências (como amaria um filho feio). A alegria é o motor do crescimento. Explore a liberdade de moldar o seu trabalho como belas experiências, iterações, tentativas e erros. Siga o caminho longo e permita-se o prazer de falhar todos os dias.
Bruce Mau
Sabia que a Playstation -- insígnia de uma indústria recente que não só reflecte os tempos com precisão como, ao fim de uns meros vinte anos, se tornou das mais lucrativas do planeta – nasceu por acaso ou mesmo por asneira? A história conta-se assim: a Sony investiu uns bons milhões no desenvolvimento de um protótipo de consola com CD-Rom para a Nintendo, quando esta desiste da encomenda e opta por manter o "velho" cartucho como suporte do seu software. Sem saber nada da indústria dos jogos, a Sony, ferida no seu orgulho, lançou por si mesma a consola que, por acaso, até deu cabo do share de mercado da Nintendo. Assim nasceu a Playstation. Muitas coisas -- interessantes, lucrativas, paradigmáticas -- são erros. A Coca-Cola, a acreditar na lenda, é também um erro. O empregado da drogaria, na ausência do patrão, não soube o que misturar ao xarope por este inventado e juntou-lhe água gazeificada. O cliente adorou. Tanto que comprou a patente. O resto já se sabe.
Neste século industrializado e a caminho do escatológico milénio, implantou-se uma estranha ideologia da síntese e da busca da perfeição. Não são exactamente a mesma coisa mas bem as podemos considerar as principais fontes de muito disparate. Da síntese, que germina terceiras vias e religiões panteístas (e, quiçá, a má literatura de Paulo Coelho); que aplica as equações quânticas ao estudo da psicologia e os princípios da entropia às enxaquecas; nem vale a pena falar: o milénio tem sido uma vasta e quase sempre patética colecção de dislates. Falemos então da "busca da perfeição".
O pianista Thelonius Monk afirmou certa vez que não havia gostado de um seu concerto por neste terem acontecido "poucos erros". A perfeição, para Monk, era apenas e só a condição para o aparecimento do erro. Esticada aos seus limites possíveis, então a música abre fendas, foras-de-tempo, desarmonias, que provam ter-se feito o humanamente impossível, atingindo o fracasso. Nenhuma outra ilação se pode daqui tirar, a não ser a vontade de repetir. Muitas vezes Monk conseguia-o; por vezes não. E quando não existiam erros, ficava decepcionado.
Repare-se como certas formas de vida surgem em ambientes tão inóspidos que a sua própria existência chega para nos maravilhar. Pensem no Nautilus. Pensem no Cacto. Talvez devessemos olhar para eles e seguir o seu exemplo.
O milagre da evolução-mutação-adaptação da vida não se fez nem faz, contudo, sem os seus desvios, erros e fracassos. Pensem no homem de Neandertal. Esses fracassos são necessários à exploração das potencialidades do sistema (qualquer sistema, e não apenas o orgânico) ou melhor: o fracasso pertence à busca dos limites e do novo. Segundo os jornais, o super-homem que bateu um dos mais antigos recordes do atletismo, Michael Johnson, colocou uma insígnia no seu ginásio: "se não acreditas no impossível, não perturbes quem o está a tentar". Parece-me uma bela ideia.
Para Tom Peters, um dos grandes problemas dos negócios é a "armadilha da Coca-Cola". Imaginemos investir numa ideia que não pode falhar: um refrigerante totalmente à base de açucar e corantes. E o problema é este: se alguém entende o seu conceito, então é porque ele nada tem de novo. Vai ser apenas segundo. Nunca será, realmente, uma "nova Coca-Cola", mas sim "mais uma Coca-Cola". Outra. (Ainda Peters : "os erros não são o sal da vida, os erros são a vida. Os erros não devem ser tolerados; devem ser encorajados").
Em suma, o erro é, por excelência, o local onde nasce o novo, o surpreendente, o meteórico sucesso. A Coca-Cola e a Playstation são o que são, mas vale pouco repeti-las. Em vez disso, descubra-se algo de novo. Faça uma asneira que ainda ninguém fez.
Bruce Mau
Sabia que a Playstation -- insígnia de uma indústria recente que não só reflecte os tempos com precisão como, ao fim de uns meros vinte anos, se tornou das mais lucrativas do planeta – nasceu por acaso ou mesmo por asneira? A história conta-se assim: a Sony investiu uns bons milhões no desenvolvimento de um protótipo de consola com CD-Rom para a Nintendo, quando esta desiste da encomenda e opta por manter o "velho" cartucho como suporte do seu software. Sem saber nada da indústria dos jogos, a Sony, ferida no seu orgulho, lançou por si mesma a consola que, por acaso, até deu cabo do share de mercado da Nintendo. Assim nasceu a Playstation. Muitas coisas -- interessantes, lucrativas, paradigmáticas -- são erros. A Coca-Cola, a acreditar na lenda, é também um erro. O empregado da drogaria, na ausência do patrão, não soube o que misturar ao xarope por este inventado e juntou-lhe água gazeificada. O cliente adorou. Tanto que comprou a patente. O resto já se sabe.
Neste século industrializado e a caminho do escatológico milénio, implantou-se uma estranha ideologia da síntese e da busca da perfeição. Não são exactamente a mesma coisa mas bem as podemos considerar as principais fontes de muito disparate. Da síntese, que germina terceiras vias e religiões panteístas (e, quiçá, a má literatura de Paulo Coelho); que aplica as equações quânticas ao estudo da psicologia e os princípios da entropia às enxaquecas; nem vale a pena falar: o milénio tem sido uma vasta e quase sempre patética colecção de dislates. Falemos então da "busca da perfeição".
O pianista Thelonius Monk afirmou certa vez que não havia gostado de um seu concerto por neste terem acontecido "poucos erros". A perfeição, para Monk, era apenas e só a condição para o aparecimento do erro. Esticada aos seus limites possíveis, então a música abre fendas, foras-de-tempo, desarmonias, que provam ter-se feito o humanamente impossível, atingindo o fracasso. Nenhuma outra ilação se pode daqui tirar, a não ser a vontade de repetir. Muitas vezes Monk conseguia-o; por vezes não. E quando não existiam erros, ficava decepcionado.
Repare-se como certas formas de vida surgem em ambientes tão inóspidos que a sua própria existência chega para nos maravilhar. Pensem no Nautilus. Pensem no Cacto. Talvez devessemos olhar para eles e seguir o seu exemplo.
O milagre da evolução-mutação-adaptação da vida não se fez nem faz, contudo, sem os seus desvios, erros e fracassos. Pensem no homem de Neandertal. Esses fracassos são necessários à exploração das potencialidades do sistema (qualquer sistema, e não apenas o orgânico) ou melhor: o fracasso pertence à busca dos limites e do novo. Segundo os jornais, o super-homem que bateu um dos mais antigos recordes do atletismo, Michael Johnson, colocou uma insígnia no seu ginásio: "se não acreditas no impossível, não perturbes quem o está a tentar". Parece-me uma bela ideia.
Para Tom Peters, um dos grandes problemas dos negócios é a "armadilha da Coca-Cola". Imaginemos investir numa ideia que não pode falhar: um refrigerante totalmente à base de açucar e corantes. E o problema é este: se alguém entende o seu conceito, então é porque ele nada tem de novo. Vai ser apenas segundo. Nunca será, realmente, uma "nova Coca-Cola", mas sim "mais uma Coca-Cola". Outra. (Ainda Peters : "os erros não são o sal da vida, os erros são a vida. Os erros não devem ser tolerados; devem ser encorajados").
Em suma, o erro é, por excelência, o local onde nasce o novo, o surpreendente, o meteórico sucesso. A Coca-Cola e a Playstation são o que são, mas vale pouco repeti-las. Em vez disso, descubra-se algo de novo. Faça uma asneira que ainda ninguém fez.
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