"The successor to politics will be propaganda. Propaganda, not in the sense of a message or ideology, but as the impact of the whole technology of the times."
Marshal McLuhan

domingo

Expectativas e desilusões

Pela primeira vez desde que apareceu como uma pequena rede de computadores científicos chamada Arpanet, a Internet conheceu no ano de 2001 uma tendência inédita: decresceu.
Da moda, do exagero do ruído em relação ao sinal (hype como designam os americanos) passámos ao pessimismo – efeito da estrondosa explosão da bolha financeira -- e há quem até acredite que a Internet é uma coisa que, a seu devido tempo, será reduzida a um nicho da sociedade ou, mesmo, “ir-se-á embora”, desaparecerá (obviamente só alguns radicais defende esta tese). Ou que poderá estar omnipresente, tal como a televisão ou os pratos de satélite, mas cuja importância dependerá da nossa vontade individual em relacionarmo-nos, ou não, com ela. Nada mais errado. Os arautos da desgraça e da desconfiança são apenas um efeito co-lateral e esperado do ruído da moda e do sinal da decepção quando as promessas ultrapassaram o razoável.
Voltando a pegar na ideia -- McLuhan dixit – de que a mensagem de qualquer medium é outro medium; e que a Internet vem finalmente compactar os media que se mantinham à margem da fusão, como o dinheiro (digital cash) e o transporte (teleconferência), por exemplo; a inevitabilidade da Internet nem merece ser discutida.
A Internet é como um novo mundo, um continente recém-descoberto onde devemos ter o cuidado de não perturbar ou destruir o equilíbrio natural, sob pena de sermos irremediavelmente expulsos do paraíso. Porque então só nos restará o Velho Mundo, com todas as condicionantes que lhe conhecemos e com poucas oportunidades.
Comprometer agora a relação com a Net é arriscar uma parcela enorme do futuro. É bom que os mais deslumbrados pelo brilho das pepitas mantenham esta ideia bem presente.
Como será realmente a Internet daqui a cinco ou dez anos, ainda não o sabemos. Por vezes acredito que os escritores cyberpunk estão muito mais perto de a ter descrito que a linguagem de marketing das milhares de start-ups e grandes companhias que nos prometem tecnologias efémeras, serviços entediantes e produtos já arcaicos antes de sair da caixa. Bill Gates escreveu há alguns anos na introdução do seu livro “The Road Ahead” que “Milhares de pessoas, informadas e mal informadas, estão agora a especular publicamente sobre a autoestrada da informação. O grau de erro sobre a tecnologia e as suas possíveis armadilhas surpreende-me. Algumas pessoas pensam que a autoestrada -- também chamada de rede -- é, simplesmente, a Internet de hoje ou a distribuição simultânea de 500 canais de televisão. Outros esperam ou temem que crie computadores mais espertos que os seres humanos. Esses desenvolvimentos acontecerão, mas eles não são a auto-estrada.”
Há um lado profundamente social e características narrativas que em muito estão a ser descuradas. Talvez porque não são as mais óbvias de serem empacotadas e vendidas; talvez porque a tecnologia está ainda no seu começo; talvez porque não temos interfaces neuronais. Ou, talvez, porque ainda não estamos preparados para isso.