Guerra e tecnologia
Mal ou bem as sociedades têm evoluído, exponencialmente diria, em todas as suas manifestações. Nestes últimos anos, pouco mais de um século, esse progresso caracteriza-se pela súbita deslocação da tecnologia desde a periferia para o epicentro da vida humana. A alavanca apenas potencia o músculo e, nesse contexto meramente manual, o homem assume ainda o controlo. Mas a “nova” tecnologia – a alta tecnologia, as tecnologias da comunicação e os media – vieram afectar a um nível profundo a actividade humana (e, como resposta, nunca se viu tanto misticismo avulso) hoje fortemente marcanda por operações para além das possibilidades do corpo: visões microscópicas (a descodificação do genoma humano, p.e.); macroscópicas (o mapeamento das constelações, p.e.); e, ao limite, incorpóreas (telepresença e ciberespaço).
A guerra -- ou a forma de fazer a guerra – não ficou excluída desta evolução. E, independentemente do horror que ela nos deva causar, parece-nos claro que hoje a tecnologia aplicada à guerra permite poupar vidas. Por um lado, os sistemas de informação desenvolvidos identificam com maior clareza os alvos e o seu significado. A guerra bem feita – passe a expressão – atinge a capacidade bélica do inimigo em primeiro lugar e só colateralmente as pessoas.
Por outro, morte e destruição são cada vez mais realizadas por meios remotos, poupando ao máximo a presença humana (foi esta a mensagem da Guerra do Golfo, pelo menos do lado dos mais poderosos e avançados tecnologicamente). Com todo o nojo que a guerra me desperta, sinto-me tentado a aceitar estes argumentos, independentemente do que penso sobre a legitimidade das intervenções apelidadas de “humanitárias”.
O Kosovo, contudo, veio provar-nos mais uma vez – o “gaz mostarda” na Primeira Grande Guerra ou a radioctividade em Hiroshima já foram exemplos --que podem existir graves consequências para além do tempo em que é decidida a vitória de uns e a derrota de outros. A utilização de urânio empobrecido nas bombas originou vários casos de leucemia entre os soldados da NATO. Mas se as nações vitoriosas podem, ainda assim, contar com os dedos das mãos estas baixas, que estará a acontecer e o que acontecerá à população autóctone? Quantos deformados irão nascer, quantas pessoas estarão já marcadas para uma morte horrível? E esta outra pergunta não possui qualquer carga de cinismo: não eram estas as pessoas que iam ser salvas?
Mercê da tecnologia pode-se hoje limitar o número de baixas em favor da opinião pública. Mas não parece existir modo de controlar as inexoráveis consequências da guerra. Supõe-se que num futuro próximo nem seja preciso bombardear seja quem fôr: basta desligar-lhes as luzes, a água, os semáforos, as redes de viação, os aeroportos, enfim, os computadores. Vale a pena perseguir a quimera de uma guerra sem sangue? Pergunte-se a quem lentamente agonia.
A guerra -- ou a forma de fazer a guerra – não ficou excluída desta evolução. E, independentemente do horror que ela nos deva causar, parece-nos claro que hoje a tecnologia aplicada à guerra permite poupar vidas. Por um lado, os sistemas de informação desenvolvidos identificam com maior clareza os alvos e o seu significado. A guerra bem feita – passe a expressão – atinge a capacidade bélica do inimigo em primeiro lugar e só colateralmente as pessoas.
Por outro, morte e destruição são cada vez mais realizadas por meios remotos, poupando ao máximo a presença humana (foi esta a mensagem da Guerra do Golfo, pelo menos do lado dos mais poderosos e avançados tecnologicamente). Com todo o nojo que a guerra me desperta, sinto-me tentado a aceitar estes argumentos, independentemente do que penso sobre a legitimidade das intervenções apelidadas de “humanitárias”.
O Kosovo, contudo, veio provar-nos mais uma vez – o “gaz mostarda” na Primeira Grande Guerra ou a radioctividade em Hiroshima já foram exemplos --que podem existir graves consequências para além do tempo em que é decidida a vitória de uns e a derrota de outros. A utilização de urânio empobrecido nas bombas originou vários casos de leucemia entre os soldados da NATO. Mas se as nações vitoriosas podem, ainda assim, contar com os dedos das mãos estas baixas, que estará a acontecer e o que acontecerá à população autóctone? Quantos deformados irão nascer, quantas pessoas estarão já marcadas para uma morte horrível? E esta outra pergunta não possui qualquer carga de cinismo: não eram estas as pessoas que iam ser salvas?
Mercê da tecnologia pode-se hoje limitar o número de baixas em favor da opinião pública. Mas não parece existir modo de controlar as inexoráveis consequências da guerra. Supõe-se que num futuro próximo nem seja preciso bombardear seja quem fôr: basta desligar-lhes as luzes, a água, os semáforos, as redes de viação, os aeroportos, enfim, os computadores. Vale a pena perseguir a quimera de uma guerra sem sangue? Pergunte-se a quem lentamente agonia.
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