O que é gratuito é bom?
Foi publicada há algumas semanas atrás pelo Wall Street Journal uma hierarquia de websites em que os minutos gastos por mês pelos respectivos leitores nesses mesmos sites era a medida utilizada. Não deixa de ser curioso, nesta fase do desenvolvimento da Web, que se passe a uma nova forma de contabilidade, para lá dos hits e dos cliques. E isso assim é porque o modelo de negócio está a redefinir-se.
Tal como as cadeias de televisão, os editores de Web procuram fidelizar audiências. Para tal, seguem lógicas idênticas a outros espectros dos media, nomeadamente através de fusões e alianças que lhes permitam mesmerizar o navegador, oferecendo-lhe o leque mais completo de serviços e conteúdos. O primeiro exemplo – e ainda hoje talvez o mais radical – é a American Online que, contrariamente à maioria, também negoceia com o acesso (quem se lembra dos rumores, há uns dois anos atrás, de que estaria falida e quase a fechar? Que engano!). A compra do Geocities pela Yahoo! por um valor completamente pornográfico é o último. Há uma pequena diferença, porém, entre estes dois exemplos: é que ao contrário da AOL, a Yahoo! ofecere aos navegadores todos os seus serviços. No topo da lista referida no Wall Street Journal fazem parte, aliás, além da própria Yahoo!, dois sites de correio electrónico grátis: o Hotmail e o Netadress.
Serviços gratuitos, conteúdos gratuitos… onde será que eu já vi isto? No ecrã do televisor, obviamente.
A Web procura o seu modelo económico no meio que lhe é mais próximo. Esse meio é, obviamente, a televisão. Mesmo que à partida Net e TV parecessem duas coisas radicalmente diferentes -- antagónicas até, opondo a expressão pessoal à massificação das mensagens -- a utilização intensiva do olhar acabou por inspirar fórmulas semelhantes de parasitismo simbiótico.
Um dos efeitos preversos deste novo parasitismo, é que, tal como a banda-desenhada, o cinema e a televisão se tornaram canibais e autofágicos em termos de conteúdos, chegou agora a vez da Internet se sentar em volta da fogueira da recuperação e reciclagem -- “o media interactivo engoliu todos os temas do consumismo e da criatividade, virou-os do avesso e vende a forma re(sub)construída ao topo do dólar, brilhantemente embalada, minipacotada e pré-obsoleta”, escreveu em tempos Paul McEnery na Mondo 2000.
A Web, liberta dos limites do hipertexto, aproxima-se da televisão, não pela semelhança óbvia entre o monitor e o televisor, mas porque o modelo económico que procura é o mesmo que permite a sobrevivência dos canais de televisão. O Shockwave é um simulacro de televisão. A tecnologia Push é um simulacro de televisão. O negócio dos serviços grátis ao consumidor é um simulacro de televisão.
Seria quase paradoxal notar que a televisão se desloca para o “pay per view” no momento em que a Web lhe retoma o modelo, mas contextualizado dentro da história da tecnologia e da conectividade, esse movimento é absolutamente esperado. Mas quando se repete, temos obrigação de fazer melhor que da primeira vez. A ver vamos.
Tal como as cadeias de televisão, os editores de Web procuram fidelizar audiências. Para tal, seguem lógicas idênticas a outros espectros dos media, nomeadamente através de fusões e alianças que lhes permitam mesmerizar o navegador, oferecendo-lhe o leque mais completo de serviços e conteúdos. O primeiro exemplo – e ainda hoje talvez o mais radical – é a American Online que, contrariamente à maioria, também negoceia com o acesso (quem se lembra dos rumores, há uns dois anos atrás, de que estaria falida e quase a fechar? Que engano!). A compra do Geocities pela Yahoo! por um valor completamente pornográfico é o último. Há uma pequena diferença, porém, entre estes dois exemplos: é que ao contrário da AOL, a Yahoo! ofecere aos navegadores todos os seus serviços. No topo da lista referida no Wall Street Journal fazem parte, aliás, além da própria Yahoo!, dois sites de correio electrónico grátis: o Hotmail e o Netadress.
Serviços gratuitos, conteúdos gratuitos… onde será que eu já vi isto? No ecrã do televisor, obviamente.
A Web procura o seu modelo económico no meio que lhe é mais próximo. Esse meio é, obviamente, a televisão. Mesmo que à partida Net e TV parecessem duas coisas radicalmente diferentes -- antagónicas até, opondo a expressão pessoal à massificação das mensagens -- a utilização intensiva do olhar acabou por inspirar fórmulas semelhantes de parasitismo simbiótico.
Um dos efeitos preversos deste novo parasitismo, é que, tal como a banda-desenhada, o cinema e a televisão se tornaram canibais e autofágicos em termos de conteúdos, chegou agora a vez da Internet se sentar em volta da fogueira da recuperação e reciclagem -- “o media interactivo engoliu todos os temas do consumismo e da criatividade, virou-os do avesso e vende a forma re(sub)construída ao topo do dólar, brilhantemente embalada, minipacotada e pré-obsoleta”, escreveu em tempos Paul McEnery na Mondo 2000.
A Web, liberta dos limites do hipertexto, aproxima-se da televisão, não pela semelhança óbvia entre o monitor e o televisor, mas porque o modelo económico que procura é o mesmo que permite a sobrevivência dos canais de televisão. O Shockwave é um simulacro de televisão. A tecnologia Push é um simulacro de televisão. O negócio dos serviços grátis ao consumidor é um simulacro de televisão.
Seria quase paradoxal notar que a televisão se desloca para o “pay per view” no momento em que a Web lhe retoma o modelo, mas contextualizado dentro da história da tecnologia e da conectividade, esse movimento é absolutamente esperado. Mas quando se repete, temos obrigação de fazer melhor que da primeira vez. A ver vamos.
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