"The successor to politics will be propaganda. Propaganda, not in the sense of a message or ideology, but as the impact of the whole technology of the times."
Marshal McLuhan

domingo

Os conteúdos e o resto

Um ranking das 50 maiores empresas da Nova Economia – a Digital ou das Redes, como preferirem -- elaborado por uma empresa espanhola, a GIPA, revelou o fraco peso do negócio dos conteúdos quando comparado com as telecomunicações, a electrónica e o hardware. As primeiras quatro primeiras empresas desse ranking são, aliás, todas de telecomunicações: Portugal Telecom, Telecel, Marconi e TMN (e note-se que três pertencem ao grupo da PT). Telefonia fixa e telefonia móvel são, hoje e em Portugal, um negócio altamente rentável. Ao invés, as empresas de conteúdos que aparecem neste ranking são, quase todas embora em medidas muito diferentes, deficitárias: RTP, TVI, Lusomundo Cinemas, TSF e TV Cabo. As rentáveis, por sua vez, são a SIC, RDP, Lusomundo Audiovisuais, e a Texto Editora. O volume de negócios gerado pelo total destas empresas em 1997, cerca de 80 milhões de contos, equivale apenas a um quinto do negócio da PT no mesmo ano. Uma situação nada reconfortante quando tudo aponta para que os conteúdos (e não o seu transporte) sejam a principal fonte de riqueza da chamada Sociedade da Informação. Quando o primeiro-ministro anunciou pretender multiplicar os conteúdos por mil (não disse como, nem em quanto tempo) era disto que estava a falar.

A taxação do tráfego será, rapidamente, um negócio pouco rentável e até marginal. Primeiro, porque a liberalização do mercado está a chegar. Segundo, porque os próximos sistemas de transporte de informação serão verdadeiramente globais: GSM + satélites LEO. Terceiro, porque o futuro se apresenta assíncrono: abundância de informação em formato digital + tecnologias de compressão sobredesenvolvidas + largura de banda excedente.
Construídos os caminhos, é preciso saber onde nos levam. A utilização exponencial do ciberespaço --Internet, WWW, Multibanco, Videoconferência, NetTV, TV por cabo e satélite, telefones móveis, etc., etc. – provoca um desenvolvimento também exponencial das tecnologias da Informação e, sobretudo, dos processos da sua convergência e interactividade. Num ciclo virtuoso, a disseminação destas tecnologia desloca para o mundo online uma cada vez maior percentagem das relações pessoais e profissionais, das transacções, dos serviços e dos media, que antes eram apanágio exclusivo do mundo real. E Portugal está longe de ter lançado fundações suficientes nesse novo mundo virtual.
A nossa História é, aliás um exemplo bem paradigmático daquilo de que estamos a falar: enquanto os nossos homens sucumbiam de escorbuto (e ao amor das nativas, é certo) para transportar especiarias, madeiras e ouro, eram outras cidades, italianas e holandesas, quem enriquecia com a transformação dessas matérias-primas sem forma em conteúdos: mobiliário, ourivesaria, etc. A política do transporte, como bem demonstrou o historiador António Sérgio, é má política, se o sistema não possuir, a montante e juzante, outras mais-valias. Ontem como hoje.