"The successor to politics will be propaganda. Propaganda, not in the sense of a message or ideology, but as the impact of the whole technology of the times."
Marshal McLuhan

terça-feira

PCs e telemóveis

Todos nós que usamos computadores, sejamos ou não os legítimos proprietários, sabemos isto: o seu tempo médio de vida não ultrapassará os dois anos. Ao ultrapassar essa fasquia de utilização, será necessário proceder a uma actualização -- motherboard, processador, etc -- ou, pura e simplesmente, descartar e optar por um novo.
O preço dos computadores, entretanto, tem baixado bastante. Ou melhor, o preço de um computador completamente artilhado para a oferta informática e telemática do momento tem-se mantido estável -- mas a qualidade do hardware melhora exponencialmente, o que corresponde a um abaixamento significativo dos custos. Porém, a quantia que é necessário desembolsar a cada novo computador mantem-se relativamente constante: qualquer coisa como meio milhar de contos (os processadores estão mais baratos, mas as placas de som, placas de vídeo, CD-Roms de n velocidades, etc., encarecem o computador no seu todo).
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Em suma, o computador é ainda um investimento com impacto considerável na bolsa da maioria das pessoas. Indivíduos e empresas com grande necessidade de cálculo ou processamento de texto, por exemplo, não podem sequer hesitar quando é chegada a altura de investir. Contudo, como ferramenta de comunicação, apenas ou sobretudo, o computador revela-se extremamente dispendioso. Diria mesmo: o aparelho mais caro actualmente existente. Ao contrário do telefone ou do telemóvel.
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Uma das formas imaginadas para fazer face a estes elevados custos foi o Network Computer. A sua adopção para além duma intranet empresarial é, porém, impossibilitada pela largura de banda actualmente disponível. E, muito embora seja uma boa ideia, o Netwrk Computer pode bem vir a seu um daqueles casos de tecnologia chegada antes de tempo e, desse modo, desaparecer mesmo antes de ter qualquer importância. E isto porque -- em termos de comunicação e não em termos de cálculo -- o antecessor dos próximos interfaces está já largamente disponível e a preços imbatíveis: o telemóvel.
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O telemóvel cumpre parte substancial das leis da Nova Economia -- a economia das redes -- nomeadamente a Lei da Abundância (e Portugal pode bem ser considerado o paradigma disso mesmo: nos transportes públicos, na mão de jovens liceais ou reformados, o número de aparelhos é extraordinário), a Lei dos Preços Invertidos (os telemóveis são cada vez melhores e, ao contrário dos computadores, o investimento necessário fazer neles é cada vez menor), a Lei do Valor Exponencial (porque os operadores de telecomunicações móveis são todos compatíveis entre si, tal como os aparelhos) e, finalmente, a Lei da Generosidade -- o seu preço tende para zero.
(NOTA: estas são algumas das doze leis da Nova Economia tal como postuladas por Kevin Kelly -- ver «Wired» nº 5.09 ou «cyber.net» nº 30)
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Um único senão: enquanto a frequência dos telemóveis em Portugal quase se revela aflitiva (porque tocam para toda a gente em vez de tocarem apenas para seu proprietário) nos Estados Unidos são practicamente inexistentes. Os norte-americanos não utilizam a norma GSM -- as redes são analógicas -- e, como tal, os aparelhos são pouco portáteis para terem conhecido real êxito. Dizia-me alguém que os americanos, quando não se encontram em casa ou no escritório, estão no automóvel. E é no quatro-rodas que podemos encontrar o telemóvel americano. É provável. Mas mesmo a diferença de normas europeia e americana não impossibilitam a comunicação, não se tornando especial empecilho para as leis da abundância e do valor exponencial.
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Se o preço dos telemóveis tende para zero -- talvez só os cereais e as farinhas lácteas não tenham feito uma promoção oferecendo telemóveis -- é lícito acreditar que estes se tornem o interface preferencial de grande parte dos serviços telemáticos. Com efeito, a progressiva integração de vários novos serviços informativos (o que já tinha acontecido com os «bips») ou de comunicação (como o receber e enviar correio electrónico) constituiem sinais dessa mesma tendência. A economia dos telemóveis adapta-se com uma luva a esta estratégia, visto que os aparelhos são quase oferecidos aos desbarato, tendo o negócio como mais-valia a cobrança, exactamente, dos serviços.
A criação de serviços para redes móveis é, pois, uma área onde veremos, num futuro próximo, grandes investimentos. Está, igualmente, em sintonia com tudo o que aqui escrevemos sobre os satélites, há umas semanas atrás.
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A médio prazo, a guerra que os telemóveis serão capazes de mover aos computadores será decisiva. Não vejo, hoje, como é que os computadores conseguirão evoluir mais rapidamente que os telemóveis.
Ou, dito de outro modo, o telemóvel é a primeira peça de «wearable computing» que você usa.