"The successor to politics will be propaganda. Propaganda, not in the sense of a message or ideology, but as the impact of the whole technology of the times."
Marshal McLuhan

domingo

Resoluções de Ano Novo

Ele há um objecto conceitual chamado "resoluções para o Ano Novo" que eu sempre adorei. Trata-se de uma lista que descreve as coisas que deviamos ter feito durante o ano que se acaba e que, por preguiça, esquecimento ou verdadeira falta de tempo, nunca fizémos. Gosto de pensar nessas listas como coloridas espetadas que se colocam ao carvão: ao fim de algum tempo carbonizam e desaparecem sob o terrível peso do dia-a-dia. Mas são bonitas e dá gozo elaborá-las. Dizem imenso sobre o que somos, o que aspiramos a ser, e os sonhos que nos movem.
Por vezes, a lista torna-se mais criativa e enuncia coisas realmente novas, que nunca nos tinham passado pela cabeça. Esse é o meu género de lista, já que perder peso, renunciar aos charutos ou usar roupas de cor não são coisas que, realmente, leve a sério. Um ano não tem piada se não começa com uma boa lista de verdades improváveis. E é isso mesmo que, este ano, tenciono fazer.
Resolução 1: Diminuir os custos com as telecomunicações, aumentando a conectividade.
Visto que trabalho cada vez mais em casa, começo a exasperar com o modem a 33K e as taxas de transferência. Procurar informação e importar programas, através da Internet, tornou-se um quebra-cabeças jogado a ritmo do caracol. Enquanto estou aqui sentado, as bases de dados explodem enquanto o meu poder de acesso a elas implode. Preciso inverter esta oposição de direcções, e rapidamente, ou corro o perigo de me tornar analógico e voltar a ler jornais no café. É que, por este andar, o nível de informação que sou capaz de absorver assemelhar-se-á à leitura do jornal diário. E como irei eu então ganhar a vida? Quem quererá ler os textos de um tipo que passa as manhãs no subúrbio a ler jornais?
Do que eu preciso é, por exemplo, de bots. Agentes inteligentes que tornem a Net objectiva e eficaz na informação, como antigamente, nos tempos que lhe conhecia os cruzamentos e as travessas tão bem quanto a topologia do Bairro Alto. Mas para isso preciso também de uma ligação permanente e de bidireccionalidade. A conectividade, implica uma relação igual entre dois pontos. O meu computador não se pode tornar igual à televisão. Hummm… esta talvez não seja difícil; afinal, dizem, vivemos já no século XXI.
Por outro lado, a minha vida virtual diminui na directa proporção em que aumentou a minha domesticidade. Ora isso não é justo, nem sensato, quando o teletrabalho deve ser uma das prioridades para aliviar as IC-dezanoves deste país e a insuportável pressão urbana, a ausência de espaço vital, as comidas de colesterol puro e a falta de oxigénio. A presença, ou telepresença, simultânea em vários espaços virtuais, como o telnet ou o IRC, num verdadeiro desafio de multitasking -- aquilo que me concedeu a cidadania da Aldeia Global -- tornou-se impossível a impulsos telefónicos contabilizados ao segundo. Preciso, realmente, de uma ligação permanente cá em casa, cujos custos e mais os dois telemóveis e o telefone fixo e etc. não me levem à falência. Será pedir muito?
Bem, estas coisas das resoluções de Ano Novo são mesmo assim; não custa sonhar. Sei que tinha mais uma ou duas coisas para acrescentar à lista mas, sinceramente, acho que acabei por esquecê-las. Será que se diminuir o número de resoluções as hipóteses delas se tornarem reais aumenta? Não custa tentar.